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Teorias da Aprendizagem

Seis teorias da aprendizagem embasam as ações pedagógicas da ESP/CE: Teoria Experencial, Teoria Cognitiva da Aprendizagem, Teoria Social Cognitiva, Andragogia, Teoria da Carga Cognitiva e a Teoria de Fitts e Posner. A seguir, uma breve descrição de cada uma delas.

Teoria Experiencial

A Teoria Experencial surgiu no início do século passado para contrapor a Educação Tradicional, que era vista como autoritária, não compatível com a democracia. Os estudantes eram meros agentes passivos e os conhecimentos transmitidos de forma isolada e descontextualizada.
As raízes filosóficas, dessa teoria, estão ligadas ao Iluminismo de Thomas Hobbes e René Descartes, onde se enfatiza a importância da mente e dos sentidos humanos para a aprendizagem. Essa teoria foi a base para a moderna Psicologia.

Seu principal expoente é o filósofo John Dewey, que defendia o pragmatismo e, para o qual, a realidade é encontrada dentro da experiência de cada indivíduo, daí o nome da teoria. Dewey valorizava o desenvolvimento individual, além de propor a necessidade do treinamento da mente, dentro do processo de aprendizagem, e ter contribuído para o desenvolvimento do empirismo.

A Teoria Experencial tem como foco a experiência de cada indivíduo como fonte da aprendizagem, ou seja, a aprendizagem nasce da experiência. O currículo é baseado na experiência e nas necessidades dos estudantes, respeitando a individualidade de cada indivíduo, em um formato abrangente e flexível. Vários princípios e várias características, dessa teoria, são aplicados pelas metodologias ativas, utilizadas na ESP/CE, como o PBL e a Problematização.

Teoria Cognitiva da Aprendizagem

De acordo com a Teoria Cognitiva da Aprendizagem (TCA), aprender é construir o conhecimento, de maneira significativa, a partir do que já se sabe. As chamadas operações cognitivas – pensar, raciocinar, tomar decisões – são valorizadas, e não somente os resultados ou a mudança de comportamento, como propõe a Teoria Comportamental (Behaviourism).

Jerome Bruner, considerado o Pai da Psicologia Cognitiva, propõe uma série de premissas e diretrizes para a aplicação da TCA no processo de ensino-aprendizagem, destacando-se a aprendizagem por descoberta (Learning by Discovery), a importância da participação ativa do estudante em todo o processo de ensino-aprendizagem, desde o desenho do programa educacional até sua avaliação, e a proposta do currículo em espiral, no qual os temas são trabalhados em diferentes momentos e em diferentes contextos e complexidade. Schmidt (1993) propõe seis princípios cognitivos da aprendizagem do
adulto:

  1. Disponibilidade de conhecimentos prévios;
  2. Ativação dos conhecimentos prévios;
  3. Estruturação dos conhecimentos na memória;
  4. Elaboração das novas informações;
  5. Dependência contextual; e
  6. Motivação para a aprendizagem (intrínseca e extrínseca).

Na TCA, o estudante aprende, construindo, ativamente, ideias, gerando significado, interpretando as informações, tomando como base o conhecimento e as experiências preexistentes, o que caracteriza a Aprendizagem Significativa. Na Aprendizagem Significativa, há a interação entre o novo conhecimento e
o conhecimento prévio. Nesse processo, que não é literal e nem arbitrário, o novo conhecimento adquire significados para o aprendiz e o conhecimento prévio fica mais rico, mais diferenciado, mais elaborado em termos de significados e adquire mais estabilidade (MOREIRA;MASINI, 1982; MOREIRA, 1999, 2000). A Aprendizagem Significativa ocorre quando a nova informação ‘ancora-se’ em conhecimentos, especificamente, relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva, ou seja, novas ideias, proposições e novos conceitos podem ser apreendidos, significativamente (e retidos), à medida que outras ideias, outros conceitos, outras proposições relevantes e inclusivos estejam, adequadamente, claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem para os primeiros (MOREIRA, 1999).

Teoria Social Cognitiva

A Teoria Social Cognitiva foi proposta por Albert Bandura. Inicialmente, foi formulada com o nome de Teoria da Aprendizagem Social e, ainda, é conhecida com esses termos por muitos pesquisadores e profissionais no Brasil. No entanto, o conceito de aprendizagem social está ultrapassado e precisa dar lugar a abordagens, que descrevem mais claramente o papel ativo, atribuído aos indivíduos no processo de aprendizagem e a interlocução, que eles fazem com o ambiente, principal mediador deste processo.

Na Teoria Social Cognitiva, Bandura trabalha o conceito da autorregulação, ao longo de sua trajetória investigativa, como um processo consciente e voluntário do indivíduo, pelo qual possibilita o controle dos próprios comportamentos, pensamentos e sentimentos, ciclicamente, voltados e adaptados para a obtenção de metas pessoais e guiados por padrões gerais de conduta (BANDURA, AZZI & POLYDORO, 2008). Trata-se de um fenômeno multifacetado, que opera por meio de processos cognitivos subsidiários, incluindo, automonitoramento, julgamentos autoavaliativos e autorreações. A autorregulação, na perspectiva sociocognitiva, tem um relevante papel no exercício da aprendizagem humana – capacidade do homem de intervir, intencionalmente, em seu
ambiente, isto é, as pessoas não, apenas, reagem ao ambiente externo, mas possuem a capacidade de refletir sobre ele, antecipar, cognitivamente, cenários construídos por ações e seus efeitos, de forma a vislumbrar e escolher cursos de ação que julgarem mais convenientes ou necessários.

Portanto, o processo de autorregulação do comportamento, descrito por Bandura, tem três subprocessos: auto-observação, julgamento e autorreação.

Andragogia

Segundo Malcolm Knowles, Andragogia é a arte e a ciência, destinada a auxiliar os adultos a aprenderem e a compreenderem o processo de aprendizagem dos adultos.

De fato, existem diferenças significativas entre crianças e adultos, o que, naturalmente, provoca diferentes processos de aprendizagem nos mesmos indivíduos, quando em diferentes fases da vida (CAVALCANTI; GAYO, 2005). O aprendiz adulto tem uma série de características, que devem ser levadas em consideração no processo de ensinoaprendizagem.

A maturidade da fase adulta traz a independência. As experiências, vividas pelos adultos, proporcionam aprendizados e erros, que trazem vivências marcantes para toda a vida. Os adultos são capazes de criticar e analisar situações, fazerem paralelos com as experiências já vividas, aceitarem ou não as informações que chegam. O adulto desenvolve habilidades intelectuais e quer experimentar e vivenciar.

Além disso, o aprendiz adulto tem profunda necessidade psicológica de ser percebido pelos outros como “autodirigido”. Qualquer experiência educacional infantilizada, na qual o adulto percebe que está sendo tratado como criança, pode interferir negativamente no seu aprendizado. No modelo andragógico, o educador atua como um facilitador.

O planejamento do programa educacional deve ser realizado com a participação dos potenciais estudantes, com base na avaliação de suas necessidades. A formulação de objetivos instrucionais deve respeitar as necessidades identificadas. Experiências de aprendizagem motivadoras devem ser criadas. O caráter voluntário da educação de adultos é um pressuposto fundamental da Andragogia (HOLMES; ABINGTON-COOPER, 2000). De acordo com Malcolm Knowles, a Andragogia é baseada em cinco princípios:

  • A necessidade de saber: o aprendiz adulto precisa saber por que eles necessitam aprender algo, antes de se engajar na tentativa de aprender.
  • A independência e o conceito de si mesmo: adultos precisam sentir-se responsáveis por suas próprias decisões e serem tratados como capazes de se autodirigir.
  • Orientação para aprender: adultos são motivados para aprender à medida que percebem que isso melhorará seu desempenho nas atividades diárias e profissionais.
  • Papel da experiência: aprendizes adultos têm uma série de experiências de vida que representam o recurso mais rico de aprendizagem. No entanto, essas experiências podem conter pressuposições.
  • Disposição para aprender: adultos estão dispostos a aprender aquilo que eles precisam saber para enfrentar, efetivamente, situações profissionais e da vida.

Teoria da carga cognitiva

A Teoria da Carga Cognitiva foi proposta pelo psicólogo australiano John Sweller no final da década de 1980, e teve como objetivo desenvolver estratégias de design instrucional com base em um modelo de arquitetura cognitiva humana. A teoria é relevante para a compreensão do atual cenário tecnológico em que se encontram os profissionais de saúde, onde se observa cada vez mais a utilização de recursos digitais nos processos de ensino e aprendizagem.

Constituída de princípios, cuja resultante é um ambiente de aprendizagem eficaz, a teoria nos alerta sobre a quantidade de informação que a memória de trabalho pode apreender de uma vez, pois não se pode processar informações além do que a cognição humana pode suportar; isso porque a arquitetura cognitiva humana é constituída por uma memória de trabalho limitada e uma memória de longo prazo ilimitada que contém esquemas cognitivos.

Sabendo-se que a experiência vem exclusivamente do conhecimento armazenado na forma de esquema na memória de longo prazo, a Teoria da Carga Cognitiva considera três classificações: a carga intrínseca, a carga irrelevante ou externa e a carga relevante.

A carga intrínseca está envolvida com a complexidade da tarefa executada e com a experiência do aluno. Por outro lado, a carga irrelevante está relacionada com processos desnecessários, e não contribui para o desenvolvimento da aprendizagem. Por último, temos a carga relevante que é promovida por processos de aprendizado que lidam com a carga cognitiva intrínseca (SEWELL et al., 2019; VAN MERRIËNBOER, SWELLER, 2010).

Nessa linha de raciocínio, convém mencionar que a Escola de Saúde Pública do Ceará-ESP/CE também se apoia na Teoria da Carga Cognitiva, e considera sua contribuição para melhorar a compreensão de estratégias educacionais no ensino em saúde, assessorada pela tecnologia. Além disso, a literatura discute implicações positivas no que se refere ao ensino no local de trabalho; aos ambientes de aprendizagem; ao design curricular e à metacognição.

Diante disso, além de fornecer uma estrutura conceitual útil para a compreensão dos processos de ensino e aprendizagem e desenvolver diretrizes de design instrucional com base em um modelo de arquitetura cognitiva humana, a teoria supracitada pode ser utilizada como um guia para auxiliar no desenvolvimento de conhecimentos, de habilidades e de atitudes (competências), incluindo o ensino de procedimentos em cenário simulado, que pode ser em sala de aula ou em ambiente hospitalar. Assim, a revisão de paradigmas educacionais tradicionais é imprescindível para a construção de novos modelos que relacionam saúde, tecnologia e educação com os anseios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), sempre evitando a sobrecarga cognitiva no processo de ensino-aprendizagem.

Teoria de Fitts e Posner

Paul Fitts (FITTS, 1964) afirmava que a aprendizagem é um processo que envolve estágios, com características peculiares. Cada estágio depende da capacidade que o indivíduo tem de processar informações. Dessa forma, Fitts junto com Posner (FITTS; POSNER, 1967) desenvolveram uma explicação para a aquisição de habilidades motoras, estabelecendo a teoria de Fitts e Posner que possui três fases: a primeira fase corresponde ao momento em que a habilidade é aprendida, e é chamada de fase cognitiva em que o aprendiz intelectualiza a tarefa. A segunda fase, a associativa, é o estágio em que o desempenho se aproxima da habilidade, e por último, temos a fase da autonomia, ou seja, é o estágio em que a habilidade se tornou totalmente automática e pode ser realizada sem pensar muito sobre a tarefa. Este último estágio está relacionado a um desempenho mais qualificado em que o aluno começa a se concentrar nos demais aspectos relacionados à atividade proposta (REZNICK; MACRAE, 2006). Essa teoria é fundamental, portanto, para o desenvolvimento de competências, principalmente, para os treinamentos de habilidades que devem ser realizados em ambientes simulados e laboratórios de habilidades.